Jojo’s bizarre adventure: como traumas criam gangsters

Quando recebo recomendações, meu único compromisso é com a obra. Mesmo depois de anos, elas sempre voltam à minha cabeça no momento perfeito, e foi assim com o anime Jojo.

Em Jojo, os personagens tem um passado muito difícil, cada um à sua maneira. Depois de um trauma muito forte, eles manifestam um Stand, uma entidade que é o reflexo da sua alma. E assim, eles ressignificam seu caminho de vida para sempre. A melhor parte: todos são gangsters.

Dito isso, eu tenho um trauma.

Sempre gostei de atividades culturais, concursos, performances, mas meus pais nunca foram me prestigiar, nem em datas especiais como o dia das mães. Com o tempo, eu me tornei egoísta e autocritico; ser o melhor não era uma conquista, era uma condição de dignidade. Isso sangrou em outras partes da minha vida.

Tenho feito coisas novas, coisas que preciso admitir não ser o melhor, e às vezes me faltam provas de que sou bom. Ontem na faculdade, eu pedi um sinal e quando conversei com meu amigo, ele elogiou meus blogs e até perguntou se ainda faço leituras de tarot. Ele disse que se sente ansioso ao ver outras pessoas “se descobrindo”, com medo de ser deixado para trás. Absurdo, uma pessoa tão prática e bem resolvida, se sentindo dessa forma. Foi como me olhar no espelho.

Então, eu lembrei de todas as vezes que alguém me elogiou e eu não me senti prestigiado. Amigos, colegas, professores, para quem eu estava fazendo todo aquele trabalho? Quem é melhor que eu e me critica tanto quanto eu mesmo? Ninguém. Mestres não são pessoas dotadas de habilidades técnicas, são profissionais virtuosos que despertam o melhor nos outros.

Em Jojo, esse mestre é o Bucciarati. Ele é imparcial, generoso e não se coloca acima da sua equipe. Ele não precisa de um monólogo sobre como é habilidoso, as pessoas fazem isso por ele, porque é o que elas sentem sobre si mesmas na sua presença. Ele é o reflexo do que desperta de melhor na sua equipe. E eu quero ser mais como ele.

Já sabia quem escolher pro trabalho de graduação: pessoas virtuosas que amam oque fazem. É muito íntimo deixar entrarem no meu mundo das ideias, mas foi necessário para que eles se identificassem comigo, deixei que vissem minha alma, e me encheu de alegria ter alguém para compartilhar esse projeto.

Antes pensava que meu curso tinha grande papel no meu sucesso profissional, e fiquei ressentido por não ter escolhido outra coisa. Mas finalmente entendi o que meu pai quis dizer com “você é o que faz”, sinto que estou prestes a manifestar meu Stand.